terça-feira, 10 de janeiro de 2023

A praga dos cursos online

 Dentre várias coisas que a pandemia do COVID proporcionou, uma delas foi a profusão de cursos online. Desde 2020 isso vem acontecendo. O Instagram mesmo está repleto desses cursos, cem por cento online, cem por cento gratuíto, que lhe prometem o céu em uma série de três, quatro, no máximo cinco vídeos em uma determinada semana.

Uma praga.

Para sermos justos, existem propagandas que vendem cursos de fato. A pessoa assiste a um único vídeo no YouTube e é apresentado a um curso, seja lá do que for. O vendedor ou vendedora é explícito ao anunciar o seu curso. A pessoa compra o curso se quiser -- ou se tiver condição no momento. Eu já fiz um curso assim, e pra mim foi muito bom. Eu não me refiro a estes.

Eu me refiro, isso sim, às propagandas que dizem que, em apenas três, quatro, no máximo cinco vídeos a pessoa já sai profissional da área! Tudo o que você precisa saber sobre o assunto xis ou a profissão zê, você aprende assistindo a esses vídeos! Alguns até mesmo dizem que, somente por assistir a esse punhado de vídeos, já tem certificado! 

Certificado de pouco menos de quatro horas de uma atividade totalmente passiva? Que raios de empresa vai aceitar um certificado desses?

Calma que piora.

A pessoa compra a ideia. Cadastra nome, endereço, CPF e telefone pra receber conteúdos exclusivos no Whatsapp (que já está lotado de grupos, da família, do trabalho, do futebol, da igreja e um etcétera beeeem grande). Recebe um PDF com partes faltando, para serem preenchidas sabe Deus quando. Vai assistir ao primeiro vídeo, depois de quase brigar com o marido ou a esposa, porque ele está marcado para as 19 horas e é a hora do jantar...

... pra ser apresentado a um curso beeem longo, quando não é uma pós-graduação. 

E o conteúdo do vídeo? No tempo de um miojo (três minutos) se explica todo o conteúdo do vídeo. O restante é propaganda da empresa, da vaga de trabalho milagrosa, e do curso que é essencial para que você alcance o céu. E quando a pessoa percebe, já terminou. ??

Eu não sei quanto a você, mas eu me sinto lesado. Pra mim, isso cheira a má fé.


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Intervalo bem grande no blog

Nossa, a última postagem aqui foi em 2015! Deus do céu, aconteceu tanta coisa nesse tempo!

Enfim, vou resumir o que aconteceu (pelo menos comigo e com os meus) até agora. A ideia é não descartar o que foi escrito anteriormente, mas também preencher o espaço (e tirar o mato daqui, tá precisando muito!)

Em 2015:
* Fiz outro concurso, desta vez da Prefeitura de Garanhuns - fui aprovado, mas a primeira chamada aproveitou apenas dois.
* Enquanto não saía o resultado, continuei fazendo trabalho voluntário no Hospital das Clínicas da UFPE
* Acabei perdendo a minha carteira de identidade (e eu estava tão bonitinho de paletó e gravata...)

Em 2016: 
* Fui chamado via portaria para assumir a oportunidade de trabalho na Prefeitura de Garanhuns, na Secretaria de Assistência Social - só não comemorei mais porque tinha que providenciar a nova identidade...
* Voltei a morar em Garanhuns, desta vez com meus pais, enquanto isso minha esposa (Lúcia) estava em Recife no seu último ano de trabalho na Primeira Igreja Batista em Cidade Universitária.
* Comecei trabalhando na alta complexidade, em um Centro de Acolhimento de Crianças e Adolescentes chamado Abraçar. A experiência, vendo com um distanciamento de quatro anos, não foi muito boa. Vamos às claras: eu não fazia ideia nenhuma de como era o trabalho.
* Passei a trabalhar em um Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) no bairro da Várzea, no outro lado de Garanhuns, um equipamento (é o termo técnico para o conjunto formado pelo prédio, os servidores e as atividades desenvolvidas lá) de baixa complexidade (a política de Assistência Social é um assunto que precisa de várias postagens, um deles vai ser sobre as complexidades).
* A presidente do Brasil (Dilma Rousseff) sofreu impeachment e o vice dela (Michel Temer) assumiu no lugar dela. Em Garanhuns, Izaías Régis (meu chefe) foi reeleito prefeito da cidade.
* No fim do ano, consegui trazer minha esposa pra Garanhuns, e ela veio acompanhada de uma das sobrinhas (Bruna), para fazer o ensino médio aqui.

Em 2017:
* Houve mudança de coordenadora no CRAS. Aliás, quase todos os anos teve mudança de coordenadora, a exceção foi 2019-2020.
* Lúcia passou a participar de um grupo chamado Feira no Parque, um grupo de artesãos que se reuniu e montou uma feirinha para demonstrar e vender seus produtos.

Em 2018:
* 2018 teve Copa do Mundo... 
* E Lúcia passou a Copa quase toda enjoando. Alguns dias depois fomos fazer o teste, e foi constatado que ela estava grávida!
* 2018 foi o ano da gestação de Lúcia.
* E da vitória do presidente atual, Bolsonaro. Talvez eu escreva algo sobre o ressurgimento da direita no Brasil, de 2013 pra cá. Talvez - eu quero falar sobre outras coisas muito mais interessantes (pelo menos pra mim).

2019:
* Em março, nasceu Joaquim! É como tem gente que diz, quando um filho nasce, a alegria chega e o sossego vai embora.
* Neste ano eu fiz pós-graduação em neuropsicopedagogia no polo da UNIASSELVI de Garanhuns. Já apresentei o relatório de estágio e já estou com o diploma. Meu estágio foi sobre um transtorno de aprendizagem chamado discalculia.
* No fim do ano, surgiu uma crise de saúde na China, um vírus desconhecido que provocava um tipo diferente de pneumonia. Neste ano, o vírus ainda estava localizado em uma região bem delimitada na China.

2020:
* Aquela crise de saúde na China virou problema mundial. Ganhou nome (coronavírus, ou Covid-19 - o nome oficial), ganhou o mundo, ganhou força pra derrubar sistemas de saúde e economias de países por todo o mundo, atiçou o desespero em muitas pessoas (principalmente políticos).
* Atualmente a regra é: distanciamento social (trancar-se MESMO em casa), uso de máscaras (do tipo cirúrgicas) e álcool gel ao sair de casa, evitar contato físico.
* No meu trabalho, tem muita gente que, mesmo tendo recebido auxílio emergencial do governo federal, ainda assim vai ao CRAS para solicitar cesta básica. E a tendência é essa quantidade de gente aumentar, porque vai chegar uma hora em que o auxílio emergencial vai acabar... e Garanhuns não tem emprego (trabalho formal, de carteira assinada ou contrato) para todos.

Estamos nesta situação agora. Não garanto postagens regulares aqui, mas algumas coisas eu vou ocasionalmente postando aqui. 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Pra que servem as coisas que nos ensinam na matemática?

Dia desses eu vi uma pergunta parecida com esta do título deste tópico (na verdade, um tanto mais curta do que esta): pra que serve a matemática? Vou considerar, neste post, estas duas perguntas como sendo bem parecidas, quase iguais. Depois eu falo sobre a diferença entre elas.
Pra começo de conversa, dizer que a matemática serve para muitas coisas e fazer uma lista das coisas que se podem fazer com elas, é uma tarefa relativamente fácil. De contar a quantidade de coisas a nossa disposição, a tentar descobrir qual a temperatura de uma barra de ferro sendo aquecida durante um determinado tempo, incluindo calcular a propagação de um boato ou uma doença, pode-se utilizar matemática para diversas aplicações. Mas eu pensei: existe uma diversidade de profissões, funções e trabalhos, e esses trabalhos demandam mais ou menos conceitos matemáticos para o bom desempenho deles. Questão de utilidade, mesmo. Acredito que é nesse sentido que a maioria das pessoas (se) perguntam pra que serve a matemática que são obrigadas a aprender na escola.

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Um exemplo estupidamente simples de conceito matemático aparentemente pouco útil: números primos. Pra quem não sabe ou não se lembra, um número natural é chamado primo quando ele só pode ser dividido por ele mesmo ou por 1. 
(Pequena digressão)
Não, não dá pra dividir por zero: nenhum número pode ser dividido por zero (e nem Chuck Norris consegue essa proeza), nem em termos matemáticos nem em termos "filosóficos". O máximo que se pode fazer em termos matemáticos é diminuir o quanto quiser o número divisor até chegar próximo a zero (e o resultado ficar estupidamente grande), mas chegar perto de zero não quer dizer chegar em zero. E "filosoficamente" falando, como você vai dividir uma coisa pelo nada?
(Voltando da digressão)
Tá, mas pra que serve número primo? Eu não uso no meu trabalho, e aí? O que é que eu ganho sabendo que existe esse tal número primo?
Explicando de forma bem resumida: se você faz compra e venda pela Internet, já deve ter visto um pequeno cadeado no site. Ele indica que o site é seguro para fazer uma transação eletrônica de fundos, quer dizer que a pessoa pode fazer uma compra de uma mercadoria usando o seu cartão de crédito. O que garante isso é um protocolo de transferência de dados que utiliza criptografia (que visa tornar os seus dados secretos para todos na Internet exceto o comprador e o vendedor). A criptografia utilizada no protocolo é baseada em ferramentas matemáticas que utilizam... números primos.
Para que as ferramentas matemáticas funcionem de forma satisfatória, é necessário utilizar números primos BEEEEM grandes. E surgem duas perguntas importantes a esse respeito: 
1. Como conseguir números primos tão grandes?
Antes dos computadores existirem, já haviam ferramentas matemáticas, os crivos e testes, usados para saber se um determinado número é primo ou composto (número composto é o número que pode ser dividido por um número menor que ele, sem deixar resto). E já havia números primos grandes registrados. O que os computadores trouxeram foi a facilidade de executar esses crivos e testes. E os números primos aumentaram enormemente de tamanho, tornando-se gigantes. 
2. E se a quantidade de números primos esgotar?
É garantido que a quantidade de números primos NÃO vai esgotar. Ou seja, existem infinitos números primos, e a prova é uma das mais fáceis de entender (se não for a mais fácil!).
Vamos supor que a quantidade de números primos que existe é limitada, embora seja muito grande. Que o maior número primo que existe é um número ao qual vamos chamar de p, que é muito grande. Em seguida, vamos multiplicar TODOS os números primos que existem, incluindo o p, e vamos chegar em um número que vamos chamar de N, um número colossal. Sabemos que N pode ser dividido por qualquer número primo que existe, incluindo o p, sem deixar resto... mas e se acrescentarmos 1 a esse número colossal, N? N+1, como fica? Infelizmente, o N+1 não pode ser dividido pelos números primos que temos, sem deixar resto, o que quer dizer que o N+1 é primo... mas nós não supomos que havíamos chegado ao último primo, p? E como é que chegamos a um número MUITO MAIOR que p, e é primo? Então, a suposição que fizemos, de que existe uma quantidade limitada (embora grande) de números primos, é inválida. Ou seja, existem mesmo infinitos números primos.

Agradeça aos filósofos e nerds que quebraram a cabeça com os números (e letras que representam números) desde o surgimento da escrita. Agradeça a Pitágoras, Bhaskara, Maria Agnese, Descartes, Newton, Euler, Gauss, Phillip Cantor (francês, não inglês!), John Nash, especialmente a Eratóstenes, Pierre de Fermat, Sophie Germain, o padre Mersenne e os professores do MIT Rivest, Shamir e Adleman (RSA).

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Uma coisa é perguntar pra que serve a matemática. Outra coisa é perguntar pra que serve a matemática que nos é ensinada na escola. Mas qual a diferença?
Se uma pessoa pergunta pra que serve a matemática, obterá uma resposta um tanto quanto genérica - porque a própria pergunta é genérica. Obterá uma resposta do tipo: "A matemática serve para contarmos as coisas a nossa disposição; para sabermos quanto dinheiro temos no fim do mês, depois de pagarmos as contas; para sabermos se vale a pena comprar um bem agora ou mais tarde, etc." Ou uma resposta ainda mais incisiva: "Onde você ver número, aí tem matemática". Ou seja, a pessoa que está respondendo a essa pergunta, na maioria dos casos uma pessoa que trabalha profissionalmente com matemática, está recebendo uma pergunta genérica, abrangente, um tanto quanto superficial - e responderá de forma superficial, genérica também.
Coisa diferente de quando perguntam pra que serve a matemática que nos ensinam na escola. Aí já há um contexto, o ambiente escolar, e neste ambiente são ensinadas muitas coisas que podem ou não ser úteis na vida profissional ou pessoal daquele que pergunta. Acredito que é neste sentido, o do contexto escolar, que as pessoas perguntam pra que serve a matemática. 
E quanto às respostas? Estas se tornam (um pouco) mais específicas: "equação do segundo grau serve pra calcular lançamento de projéteis, pra cálculo de lucro etc."; "logaritmo era muito usado quando não havia computadores, em cálculos de astronomia"; "existe uma fórmula pra calcular o volume de um tambor cilíndrico"; "dinheiro custa dinheiro no decorrer do tempo, e o valor desse dinheiro é o juro", etc. Ou seja, a pergunta foi restringida a um contexto específico, e dentro desse contexto a resposta pôde ser melhor elaborada, tornando-se mais útil àquele que pergunta.
E surge outra pergunta: qual a utilidade disso pra minha vida? Aí, meu chapa, vai depender de cada vida, de cada profissão, de cada trabalho. Existem realmente profissões e trabalhos que utilizam poucos conceitos matemáticos no seu desempenho. Psicólogos, por exemplo (a parte que me cabe neste latifúndio). Quem trabalha com psicoterapia, em princípio não vai precisar do Teorema de Pitágoras.
No entanto, vivemos em um mundo complexo e interdependente, em que decisões que tomamos podem refletir na vida de outras pessoas e vice-versa. E certas decisões são tomadas levando em conta conceitos matemáticos. Exemplo? Quando o médico prescreve uma receita, a formulação do medicamento leva em conta conceitos de razão, proporção e regra de três; um empréstimo bancário é tomado e, além de pagar o principal da dívida, o devedor paga os juros em um sistema de juros compostos; os economistas levam em conta, entre outros, os conceitos de média simples e ponderada para cálculo de inflação; e outros exemplos mais.
Ou seja, aquele conceito que você acha que é inútil porque não precisa dele, pra outra pessoa pode ser essencial. E a sua vida (de você) pode depender disso.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Nerd apaixonado manda coração para sua musa

Encontrei hoje, dia 18 de março de 2015 (o dia em que eu comecei a escrever este post) este post do HypeScience:

http://hypescience.com/3-dicas-para-entender-matematica-amor/

(leia o post e, se puder, veja o vídeo)

Mas eu não queria falar a respeito do vídeo, e sim a respeito da imagem de abertura. A imagem tem as coordenadas cartesianas, um certo traçado e uma fórmula que expressa esse traçado.



Muito romântico (pelo menos eu acho). 
O que são coordenadas cartesianas? São um sistema de representação que expressa a relação entre duas grandezas (eu sei que podem ser tridimensionais, n-dimensionais e tudo o mais, mas vamos simplificar as coisas por enquanto).
Se a gente tem uma relação de um para um entre essas grandezas, temos um gráfico assim:


Um exemplo bem simples.
Claro, muito raramente vamos encontrar relações um-para-um, é muito mais frequente encontrarmos relações diferentes desta.
Quando temos relações em que, para cada x, temos um e apenas um determinado valor de y, o que temos? Uma FUNÇÃO. Esta é a definição de função: para cada x, temos um e APENAS UM y. No caso da imagem acima, y está em função de x, ou seja, y=f(x), e essa função se expressa de forma um-para-um, ou seja, y=x.
Ou seja, se y=3x+5, a gente pega certo valor de x, multiplica por 3, soma 5, e tem o valor de y correspondente a ele. 
E quanto à imagem do post? Logicamente, se seguirmos a definição de função, a expressão matemática (a fórmula) NÃO É uma função, pois temos mais de um ponto y para cada x; no entanto, ela pode ser expressa em termos matemáticos (como foi feita).
Outra coisa que esta imagem me diz: certas imagens podem ser expressas em termos matemáticos, e certas expressões matemáticas podem ser visualizadas graficamente. 

Mas aparece a dúvida: como escrever esta expressão no computador?
Existe um site, Wolfram Alpha (http://www.wolframalpha.com/) que ajuda muito a visualizar expressões matemáticas. Na verdade, ele ajuda não apenas nisto: ele traz muitas informações matemáticas, algumas de nível superior.
Para escrever esta expressão, usei esta notação:

x^2+(y-sqrt(|x|))^2=2 (do jeito que está aqui, pode copiar e colar - eu deixo)

Ou seja, x^2 é x ao quadrado e sqrt(|x|) é a raiz quadrada do módulo (valor absoluto) de x.

Para as novinhas: não estranhem, é um jeito diferente de expressar carinho. O garoto nerd da sua sala não está sendo esquisito: está sendo fofo.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Percepção visual e ilusões de ótica (ou: branco gelo)

Continuando nossos posts de psicologia, desta vez gostaria de falar um pouquinho a respeito de percepção visual.
Uma coisa é fato: percebemos as coisas com nossa visão de forma bem parecida. Os olhos captam as cores, o formato, as dimensões do objeto ou pessoa que estamos vendo no momento, tudo isto é transformado em impulsos nervosos em nossas retinas, esses impulsos são conduzidos ao cérebro pelo nervo ótico, e é no cérebro (mais especificamente, no córtex visual) que decodificamos os impulsos nervosos e reconhecemos que é uma garrafa de água, com tampa amarela, que está em cima de uma mesa.
A diferença está nos detalhes: uns têm mais cones (células especializadas em captar cores) ou bastonetes (células especializadas em captar preto, branco e 50 30 tons de cinza) que outros, uns não conseguem perceber a diferença entre vermelho e verde, outros não conseguem ver nada porque sofreram descolamento de retina ou rompimento do nervo ótico ou um AVC que afetou o córtex visual...
Mas vamos tomar um exemplo típico, uma pessoa que consegue ver as coisas normalmente (discutirmos o conceito de normal daria milhares de posts, mas estou me referindo ao normal do ponto de vista estatístico e não patológico). 
E se eu dissesse a você que o nosso cérebro, de vez em quando, nos prega peças? É o que costumamos chamar, popularmente, de ilusão de ótica.
Mas, por quê isto acontece? Acontece porque, no decorrer das nossas vidas, desde bebês, somos ensinados a respeito das coisas do mundo. (Valei-me, são Piaget!) Aprendemos que um cachorro tem tais e tais características, que são diferentes de um cavalo, de uma iguana e de uma escada. Por sua vez, existem cachorros maiores, menores, com cabeça mais comprida ou mais curta, com pernas compridas ou curtas, com pelo maior ou menor, mas colocamos essas imagens mentais juntas em uma mesma categoria: cachorro. A estes processos mentais, um biólogo chamado Piaget chamou de esquemas e processos de acomodação e assimilação.
Ou seja, no decorrer da nossa vida nós construímos esquemas a respeito das coisas do mundo e desenvolvemos processos de acomodação e assimilação.
Como funciona a ilusão de ótica? Segundo este princípio, a gente pode pensar em algo como um estímulo visual que confundimos com um esquema previamente gravado em nossa mente. (Isto NÃO É a explicação exata, é APENAS uma tentativa de explicação - novamente, outro processo de construção de um esquema, uma assimilação).
E como funcionam essas ilusões de ótica? Elas podem ser uma confusão na percepção de claro e escuro, na percepção de cores, de tonalidades...
Aqui tem alguns exemplos:



Uma imagem que mostra, ao mesmo tempo, Miguel de Cervantes e Dom Quixote.
No início do século XX, alguns psicólogos passaram a estudar a percepção em seu sentido mais geral (não se limitando à percepção visual), construindo um tema de pesquisa chamado Teoria da Gestalt (pronuncie guestalt, g de gato). Eles estudavam a questão da figura e fundo, o completamento e outros fenômenos perceptivos.


A capa do álbum The Division Bell, da banda inglesa Pink Floyd. Neste caso, são dois rostos, um de frente para o outro, que formam uma só imagem.

E aqui?


Qual a cor do vestido: azul e preto, ou branco e dourado? Esta imagem correu o mundo esta semana. Aqui, a questão é como percebemos a luz. Esta foto foi analisada com um programa editor de imagem, e a conclusão: é azul e preto mesmo.

E aqui?


Aqui você tem um tabuleiro de xadrez (ou damas, sei lá) em que o quadradinho A é mais escuro que o quadradinho B... ou não?

E eu tenho uma ilusão de ótica parecida com esta na minha própria casa!


Para quem não está conseguindo ver o vídeo, por uma razão ou outra, eu digo: uma parte do banheiro da minha casa foi pintada de branco gelo. Acontece que há partes de cor branco gelo que parecem mais claras que outras, pintadas da mesma cor. A explicação? Pode ser questão de iluminação do ambiente, pode ser como nós mesmos percebemos a iluminação, pode ser... sei lá!
E pra terminar, um aviso: somente os puros de coração conseguem perceber os golfinhos.